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sábado, 14 de maio de 2011

EM 37 DIAS, MURICY MUDA PEIXE. AGORA, QUER RETRIBUIR CONFIANÇA COM TÍTULO

Treinador fala sobre transformação da equipe, sobre sua dura rotina, lembra Telê Santana e diz que quer parar antes de ficar doente

Por Adilson Barros

O Santos vivia dias de incerteza: em vias de ser eliminado da Taça Libertadores já na primeira fase e sem convencer muito no Paulistão. Em campo, um time confuso, irregular, instável emocionalmente e vulnerável. A diretoria, então, resolveu apostar alto. Trouxe Muricy Ramalho, tetracampeão brasileiro, que havia se demitido do Fluminense. Embora o treinador não acredite “nessas coisas”, foi como um passe de mágica.

Em 37 dias sob o comando de Muricy (ele foi contratado no dia 5 de abril e começou a trabalhar no dia 7), o Peixe passou por uma transformação. Se não tem mais um ataque avassalador como no ano passado, o Alvinegro pelo menos apresenta um desempenho defensivo exemplar. Marca menos gols, mas não toma tantos sustos. A última vez que o goleiro Rafael foi buscar uma bola no fundo das redes foi no dia 20 de abril, na vitória por 3 a 1 sobre o Deportivo Táchira-VEN, no Pacaembu, último jogo da fase de classificação da Taça Libertadores. De la para cá, são seis jogos sem sofrer gols.

E assim, de passo em passo, o time renasceu na competição continental e está a um empate da semifinal - disputa o jogo de volta das quartas, contra o Once Caldas-COL, na próxima quarta-feira, às 22h (Brasília) no Pacaembu. No Paulistão, arrancou no mata-mata. Despachou a Ponte Preta, nas quartas, o São Paulo, na semi, e, domingo, às 16h, na Vila Belmiro, encara o seu maior rival, o Corinthians, pelo bicampeonato. No jogo de ida, domingo passado, no Pacaembu, 0 a 0.

Em conversa com Globoesporte.com, o treinador fala sobre essa transformação pela qual o Santos passou desde a sua chegada. Diz que não é mágico: apenas posicionou melhor o time, tirou a pilha dos jogadores, que andavam nervosos demais, e fez com que o elenco readquirisse confiança. O resultado se vê em campo.

Globoesporte.com: Você chegou ao Santos há pouco mais de um mês e o time mudou. Está mais maduro, bem menos vulnerável, vem conquistando bons resultados. Pode ser campeão paulista e da Taça Libertadores praticamente numa única tacada. Qual é a mágica?

Muricy Ramalho: Não tem mágica nenhuma. Tem é um trabalho bem feito. E não é só depois da minha chegada. Eu peguei uma base muito boa que já foi montada lá atrás pelo Dorival (Júnior). Depois veio o Adilson (Batista) e o Marcelo (Martelotte). Quando se pega a sequência de treinadores competentes, as coisas ficam mais simples. O que eu senti é que o time precisava se posicionar melhor. Fiz os jogadores entenderem que eles têm muita qualidade e que, com a bola nos pés, são excelentes. Ninguém duvida do que Neymar e Ganso, por exemplo, são capazes. Só que para jogarem, precisam da bola e para isso, têm de marcar. Hoje, a equipe é bem mais compacta, mas sem perder o poder ofensivo. O que mudou é que a gente já não sofre contra-ataques como antes.

Há também o componente psicológico. O time está mais tranquilo, valoriza mais a bola, ataca na boa. Também não discute mais com juiz. Neymar, por exemplo, sofre faltas e não reage, não parte para a briga...

É. Quando eu cheguei e assisti ao jogo contra o Colo Colo (penúltimo jogo da fase de grupos da Taça Libertadores, quando o Santos venceu por 3 a 2, na Vila, mas teve três jogadores expulsos: Neymar, Elano e Zé Eduardo) fiquei preocupado. O time estava pilhado demais, muito nervoso, mais preocupado em brigar com juiz e com o adversário do que em jogar bola. Eu falei para eles que tem de deixar juiz para lá. O seu Telê (Santana, de quem Muricy foi auxiliar no São Paulo) sempre dizia que a gente não tem de tentar ganhar do juiz. Tem de ganhar é do adversário. Realmente, a equipe entendeu muito bem isso. Eles estão apresentando um comportamento muito bom mesmo.
 
muricy ramalho santos once caldas libertadores (Foto: agência EFE)
Muricy Ramalho conquistou o grupo santista em pouco mais de um mês (Foto: agência EFE)

Agora, o ritmo da equipe está alucinante. Viagens longas, jogos duros. Praticamente não há tempo para treinar. Como o Santos chega para esta decisão de Campeonato Paulista?

Claro que não chega em sua forma ideal. É normal para uma equipe que chega em duas competições paralelas sentir mais. Estamos tendo muitas viagens longas. Além do cansaço físico, há o desgaste mental. Estamos correndo para lá e para cá o tempo todo. O time só joga e concentra. Não vê família direito. Então, fica difícil, pois é sempre melhor um time chegar a uma final bem treinado, descansado. Agora é decisão, é clássico, e o jogador consegue tirar força de onde não tem. Temos de nos igualar na superação. Sabendo que vale um título e que time grande vive de títulos, os jogadores se motivam. É nisso que eles se agarram.

Você acha que se o Santos vier a ser campeão paulista, a conquista será valorizada exatamente por isso?

Acredito que sim. Estou mostrando para os jogadores que estamos sofrendo, mas que pode valer muito a pena. É como um investimento que estamos fazendo para colher lá na frente.

E para você, pessoalmente, o que significaria a conquista estadual? Para quem tem quatro títulos de Campeonato Brasileiro, um Paulistão vale quanto?

Para mim vale muito. Esse negócio de estadual é assim: quem ganha não está nem aí. Mas quem perde sofre pressão. Eu sou técnico de time grande e time grande tem de entrar na disputa para ganhar. No meu caso aqui no Santos, seria muito especial essa conquista porque estou chegando agora numa casa nova. Quero dar retorno para toda confiança que a diretoria depositou em mim. Fui muito bem recebido por todos e o que me motiva é retribuir isso tudo com um título.

Você disse recentemente que não vai esticar muito a sua carreira exatamente por causa dessa correria...

Eu sempre penso nisso. Vivi ao lado do seu Telê e vi o que ele passou. Acredito que ele ficou doente principalmente por causa do estresse. Acompanhei de perto e vi o sofrimento dele. A correria, a rotina, as viagens, os problemas. Isso tudo o machucou demais. Quem está fora pensa que é fácil, mas nosso trabalho é muito complicado.

E você anda cuidando de sua saúde?

Eu sempre faço os meus exames, tomo muito cuidado, estou muito bem.

Mas já estabeleceu uma data para parar?

Não tem nada. Vou parar na hora certa. Não quero passar da bola, nem trabalhar por obrigação. Enquanto eu estiver bem física e mentalmente, vou continuar. Claro que é uma rotina complicada. Ficamos longe da família, os filhos crescem, morre um parente, tem um aniversário e você nunca está. Mas, por enquanto, eu sinto que posso seguir adiante. Quando não der mais mesmo, eu paro.

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